O Repente.
O que é o Repente?
Mais conhecido como cantoria, é uma arte brasileira baseada
no improviso cantado, acompanhado por violas e alternado por dois cantores. Tal
improviso realizado explica o nome "Repente", já que este estilo é
criado através do improviso poético, na criação de versos "de
repente".
O repente também influenciou toda uma geração de
compositores brasileiros, com presença na música de Luiz Gonzaga, Jackson do
Pandeiro, Alceu Valença, Ednardo, Zé Ramalho, Elomar, Geraldo Azevedo e
outros muitos.
História:
A origem da cantoria do repente surgiu com os trovadores na
idade média, que eram artistas de origem nobre do sul da França que geralmente
acompanhado de instrumentos musicais, como o alaúde ou a cistre,
compunha e entoava cantigas. Já aqui no Brasil, tal tradição deu origem aos
cantadores, poetas populares que vão de região em região com viola nas costas
para cantar seus versos. Assim surgiram estilos como: Trova gaúcha (RS), Cururu
(São Paulo), Samba de roda (RJ) e o Repente nordestino.
No Nordeste, tal arte surge em meado do século XIX, tendo sido
fortemente influenciada pela Literatura de cordel, ficou conhecida através dos
primeiros cantadores e repentistas na Serra do Teixeira do Paraíba. Agostinho
Nunes da Costa (1797 - 1852) e seus filhos: Antônio Ugolino Nunes da Costa e
Ugolino do Sabugi Nicandro Nunes da Costa. E assim, novos cantadores foram
surgindo, verdadeiros gênios do improviso tais como: Inácio da Catingueira,
Romano da me d`água, Silvino Piruá Lima, Bernardo Nogueira, Germano Alves,
Pinto do Monteiro, entre outros.
Atualmente, o Repente está mais organizado, tendo congresso
e encontros de cantadores, pé de parede, espalhados por todo país. Grandes
nomes desta geração aparecem: Ivanildo Vilanova, Moacir Laurentino, Sebastião Dias,
Geraldo Amâncio, Valdir Teles. Os Nonatos, Raimundo Caetano, Edmilson Ferreira,
Sebastião da Silva, Mocinha de Passira, Antônio Lisboa, Oliveira de Panelas, Hipólito
Moura, João Lourenço, entre outros...
Com a grande migração de nordestinos para o Sudeste, a
tradição do repente se espalhou, tornando-se comum encontrar duplas de repentistas,
principalmente pelas ruas de São Paulo, mantendo assim a tradição viva e
presente em nosso cotidiano. Foi em São Paulo que os cantadores inseriram a
arte o acordeon e a viola de dez cordas, nomeada de Viola dinâmica, que se
tornou símbolo dos cantadores a partir da década de 70.
Características comuns do Repente:
·
Versos mais comuns em quadras, entretanto, com o
tempo, outras métricas foram adotadas, como a sextilha.
·
Rimas intercaladas ou interpoladas: A B A B – A B
B A.
·
Debate e defesa poética de lados: Homem X
mulher, campo X cidade, rico X pobre.
O desafio de Repente.
A cantoria, ou desafio, é a forma usada para a poesia
improvisada. Dois cantadores, de viola em punho, às vezes durante toda uma
noite, improvisam à maneira das “tensons provençais”. O que existe de melhor
nesses desafios é o tom jocoso, satírico (Bec, 1995).
A modalidade consiste em debate poético entre dois
interlocutores, no qual cada um defende, em estrofes alternadas, sua opinião
sobre um tema estabelecido, que podem ser diversificados. No trovadorismo,
estilo literário que originou a cantoria na Europa, os temas debatidos
costumavam ser de ordem amorosa. Atualmente, assuntos populares e ligados ao
cotidiano costumam ser bem mais explorados: Homem X mulher, pobre X rico, campo
X cidade, entre outros.
Segue o exemplo, da popular canção: Rico e Pobre, representado
pela dupla Caju e Castanha.
Rico e Pobre:
O rico é quem come tudo
Tudo que quer ele come
Mas o pobre que trabalha
Ganha pouco e passa fome
Rico come caviar come picanha filé
Na vida o rico tem tudo e come tudo o que quer
Aonde o rico bota o dedo o pobre não bota o pé
O pobre come bolacha tripa de porco e sardinha
Farofa de jerimum bucho de boi com farinha
Come cuscuz com manteiga e batata com passarinha
O rico leva a família para o salão de beleza
Manda cortar o cabelo e na pele faz limpeza
E a filha volta tão linda que parece uma princesa
O pobre leva a família num salão barato e fraco
Manda raspar a cabeça e o cabelo do sovaco
E o filho fica igualmente a um filhote de macaco
O rico quando adoece vai pro melhor hospital
No outro dia seu nome sai na página do jornal
Dizendo que o danado já não tá passando mal
E o pobre quando adoece é feliz quando ele escapa
E quando tá internado a comida é pão e papa
Se gemer muito de noite o café que vem é tapa
O filho do homem rico tem uma vida bacana
Seu papai paga os estudos e no final de semana
Ele sai com sua gata pra passear de santana
O filho do homem pobre vai passear de jumento
Bota a nega na garupa sai correndo contra o vento
Quando o jegue dá um pulo mete a bunda no cimento
A mulher do homem rico se vai pra maternidade
Dar a luz a um menino falam com sinceridade
Ganha milhões de presentes da alta sociedade
A mulher do homem pobre quando ela vai descansar
O presente que ela ganha é bolacha e guaraná
E um bala de chupeta que é pro guri chupar
A mulher do rico sai num sapato bom de couro
Cabelo bem penteado brinco que vale um tesouro
Pulseira e colar de prata relógio e cordão de ouro
A mulher do pobrezinho só anda sem gabarito
O cabelo é assanhado o casaco é esquisito
E a saia tem mais buraco que tábua de pirulito
Filha de rico se forma pra trabalhar em cartório
Gabinete especial telefone escritório
Engenheira medicina exame laboratório
A filha do pobrezinho fica velha sem leitura
Quando aparece um emprego é na rua da amargura
Pra jogar tambor de lixo no carro da prefeitura
O filho do homem rico só toma banho no chuveiro
Uma caixa de sabonete dois três perfumes estrangeiros
Cada banho é uma roupa e cada perfume é um cheiro
O filho do pobrezinho só se molha no açude
Não pode ver empregada que ele fé que nem lhe ajude
E o pescoço e as costela tem quase um baú de grude
A filha do homem rico se arranja um namorado
Ele vai pra casa dela num carro novo zerado
Pois é filha de doutor de prefeito ou deputado
A filha do pobrezinho quando arranja um mané
Ela diz: Meu pai é rico e o povo sabe quem é
É o que vende pipoca na porta do cabaré
A filha do rico vai fazer curso no Japão
Na Grécia na Argentina até Afeganistão
Porque a filha de rico só viaja de avião
A filha do pobrezinho no interior grosseiro
Passa quatro cinco dias olhando o livro primeiro
Engasgada na fumaça do farol do candieiro
Professora Renata Castilho
Língua Portuguesa e Literatura
Formada em Letras Pela UNIFEO.
Cursando Pós Graduação Pela UNISUL – Educação a Distância
e elaboração de Material didático.
Bibliografia:
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SANTIGO.
Emerson. Repente. publicado em infoescola: https://www.infoescola.com/musica/repente/
acessado em 10/10/2020.
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ESSINGER.
Silvio. Estilos musicais repente. publicado em Clique musical: http://cliquemusic.uol.com.br/generos/ver/repente
acessado em 10/10/2020.
·
CAMPOS
e ALVES, Literatura e Repente – Expressões da cultura popular do Nordeste.
Publicado em: A verdade.org.br: https://averdade.org.br/2016/08/literatura-e-repente-expressoes-da-cultura-popular-do-nordeste/
acessado em 10/10/2020.
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NASCIMENTO,
Ana Carolina - CANTORIA DE REPENTE: PRÁTICA E REPRODUÇÃO SOCIAL -Sociol.Antropol.Vol.6
no2. Rio de Janeiro.2016
· Luciana Eleonora de Freitas Calado Deplagne – “Gênero em desafi o: das trobairitz provençaisàs repentistas nordestinas”. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, n. 35. Brasília, janeiro-junho de 2010, p. 193-205.
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