"Um compositor não existe sem um ouvido" - Papo com Jair Oliveira .
Apaixonado sempre pela música, e arte brasileira, Jair
Oliveira, conversou ontem com o “A arte na face” para falar um pouco sobre seus
mais de 30 anos de carreira, projetos e concepções. Nascido numa das famílias
mais importantes da música brasileira, o músico, compositor e produtor Jair
Oliveira, não sabe responder exatamente quando a paixão pela arte musical adentrou
seu ser, já que passou toda a infância observando as atividades musicais de seu
pai, Jair Rodrigues, dentro de sua casa. Soube por seus pais do interesse que
sempre demonstrou pelos ensaios e conversas de Jair Rodrigues com outros músicos
e compositores, além de se interessar muito pelo que ouvia nas rádios e discos
que seus pais mantinham em sua casa : Desde
os 5 ou 6 anos eu já sabia que eu gostava muito de música e por conta disto
acabei começando minha carreira cedo, meu pai percebeu isto cedo e então
comecei a estudar música, fazer aula de violão e minha mãe (Claudine Rodrigues)
sempre me incentivou a estudar , então eu sabia que a música já estava em minha
vida desde muito cedo...
Seu primeiro trabalho musical,
foi na canção “Deus Salvador”, que está no álbum Jair Rodrigues Oliveira, de
seu pai, com quem teve então seu primeiro
dueto, a partir de então Jair nunca mais parou de trabalhar com a música. Em
1982, Jair participou do Festival de San
Remo, na Itália, com a música “Io e Te” , que rendeu um emocionante
videoclipe. Foi então convidado a ingressar no famoso grupo infantil: Balão
mágico, ficando conhecido pelo público brasileiro como Jairzinho, apresentando com colegas de grupo o programa matinal da
época: Balão Mágico. Jair esteve no
balão mágico até o ano de 1987 e com o fim do grupo ainda participou de
inúmeros projetos infantis, entre eles um disco com sua antiga parceira de “Balão”
Simony.
Balão Mágico |
Embora nunca estivesse em seu ser
abandonar a música, Aos 17 anos de idade, como todo Jovem da sociedade
brasileira, Jair preocupou-se em também ter uma profissão “mais tradicional”,
muito cobrada socialmente, visto que na época não havia no Brasil cursos de
músicas mais diversificados, Jair decidiu iniciar ingressar então no Jornalismo,
para viver a experiência de um vestibular, frequentando um semestre incompleto na USP,
com a desculpa “inconsciente” que o curso auxiliaria seu trabalho de
compositor, já que criava canções desde o início de sua adolescência, e o
jornalismo também mexia com “a palavra” , podendo assim aprimorar sua forma de
escrever suas canções e de se comunicar. Jair então entendeu que estava
entrando num caminho “cheio de curvas para entrar num objetivo”, como ele mesmo
diz, e acabou abandonando a faculdade e seguindo ao seu foco principal “a
música”. Com o apoio da família mudou-se para Boston e ingressou na Berklee College of Music, uma das melhores faculdades do ramo, para lutar pelo
objetivo de permanecer na música.
Acredita que a
experiência em Berklee College of Music, auxiliou
na sua evolução como pessoa e músico, já que pela primeira vez ficava longe de
sua família, tendo que aprender a ser mais independente, longe também dos
amigos e numa cultura totalmente diferente da brasileira, além de conhecer
músicos de todo o mundo, com quem pode trocar experiências significantes para
aprimorar a própria música.
Quando
questionado sobre sua evolução artística, e as diferenças entre seu primeiro
álbum solo, “Disritmia”, e o último álbum lançado oficialmente, Sambazz, Jair informa não notar tanta diferença
em seu estilo e criação, mas assume a lapidação que houve nestes anos em seu trabalho
musical:
“talvez o público possa dizer mais... Para o
compositor acho que existe uma evolução, é como se você crescesse, se
desenvolvesse durante a vida e quem te vê crescendo é que percebe mais as
diferenças, para a própria pessoa é um pouco difícil, acredito que o “Disritmia”
tem um pouco da energia da juventude e da experimentação , foi o meu primeiro
disco autoral, e acabei reunindo quase tudo que
aprendi na “Berklee”, com outras coisas que aprendi durante os anos que aprendi
tocando no Brasil a noite nos anteriores ao álbum, tocando ao lado dos “artistas
reunidos” , “Grooveria” , e peguei toda esta energia e tentei colocar no
Disritmia, uma coisa mais crua, menos lapidada, e com a experiência do tempo,
você vai fazendo outros discos..., e do “Disrtimia” até “o 2011” (álbum lançado
virtualmente) foram vários trabalhos de experiência, teve o “Outros” , depois o “3.1”, depois o “Simples”
, depois o “Ao Vivo”, depois o “Samba me cantou” (Ao lado de sua irmã Luciana
Mello) , depois os “Grandes Pequeninos” e depois o “Sambazz”, então foram
vários trabalhos, vários anos de experiência, e nesta experiência, você vai
lapidando, você vai alterando algumas coisas, mudando alguns conceitos, algumas
partes pra melhor, outras talvez pra pior, porque na juventude tem coisas
interessantes que você consegue aproveitar e depois com a experiência você
acaba perdendo, que é esta coisa até da ansiedade que muitas vezes colabora, e
outras você melhora, e a ansiedade vai embora e traz no lugar uma experiência,
uma calma, que muitas vezes acaba sendo mais bacanas... Mas no núcleo básico,
acho que eu não mudei
muitas coisas, os meus trabalhos sempre tiveram esta
característica de misturar estilos , a música brasileira, principalmente o
samba, com o Jazz, o Soul, então não vejo uma mudança enorme... Talvez porque
uma das marcas de minha carreira tem sido a coerência, coisas nas quais eu
realmente acredito, nunca fui um artista de sair atirando para todos os lados
para acompanhar o sucesso do momento, sempre fiz aquilo que eu acredito
independente da dificuldade de transformar isto em sucesso, então quando ouço
meus álbuns, um dos aspectos que consigo identificar é a coerência, sempre
tentei ser uma pessoa coerente em relação ao meu próprio trabalho...”
Outro ponto
discutido na conversa, foi o sucesso dos “Grandes Pequeninos”, projeto que ao
lado de sua esposa, a atriz Tania Kallil,
criou em 2009 para homenagear a sua filha mais velha Isabela, com músicas educativas...
O projeto chegou a ganhar inclusive uma adaptação teatral infantil na
época. Questionado sobre o lançamento da edição “2” do projeto, agora para
homenagear a caçula Laura” , Jair confirmou que tem estado ativo na produção do
álbum e ainda na criação de uma série de “TV” chamada “Grandes Pequeninos”, que
deverá entrar no ar em “2015”, entretanto para isto é necessário a análise de
algumas questões especificas, como uma organização maior do site para que seja
algo mais familiar, porém tem trabalhado firme no DVD, e em seu conteúdo
digital, tendo o projeto ocupado grande parte de seu tempo e coisas “bem legais”
sendo preparadas... Sobre uma nova adaptação
teatral para o novo projeto, explicou que depende também da disponibilidade da
esposa para a elaboração, visto que o projeto também é dela:
“A peça não
depende muito só de mim, pois o projeto é do pai e da mãe, e a Tania tem que
acabar a novela que ela está fazendo (Joia Rara), e como ela acabou emendando as
3 últimas novelas, então a gente ainda não teve tempo de pensar no espetáculo,
talvez com o final da novela, se não aparecer outra emenda para a Tania, a
gente vai pensar no espetáculo... A expectativa é que a gente consiga lançar o
disco, e talvez um outro musical teatral no ano que vem...”
Outro ponto
abordado, foi o tão esperado DVD “Jair Oliveira, 30 anos” , que de acordo com
ele, tem demorado mais que o esperado devido a característica de um projeto mais
audacioso, já que a ideia inicial ,seria de apenas lançar em DVD o show que
fizera em 2011 em comemoração aos seus 30 anos de carreira, entretanto a ideia
foi crescendo e nela entrou um documentário, e este documentário acabou
atrasando o lançamento , já que um documentário requer um cuidado maior, como
captação de depoimentos, outras imagens, além do trabalho da produtora do DVD e
também da S de Samba (produtora que tem em pareceria com João Baptista, Dimi Kireeff e Wilson Simoninha ), que tem tido
também grande aumento na demanda de trabalho :
Ficou de um jeito muito bacana, muito bonito, e
acho que vai valer a pena a espera, porque talvez seja um dos projetos mais
bonitos de minha carreira, ficou realmente muito especial, e finalmente a gente
tem uma data de lançamento já acertada, que será Janeiro ou fevereiro do ano
que vem...
Com o pai (Jair Rodrigues) e a irmã (Luciana Mello) |
Jair também
falou de seu trabalho como produtor musical, que aliás tem sido muito bem
sucedido, e lamenta o fato de poucos conhecerem o real trabalho e a função de
um produtor musical, que é muito pouca
valorizada no Brasil e de extrema importância, já que é o responsável de fechar
todos os pontos de um trabalho musical, contou ainda que o maior objetivo da
criação do livro que escreveu para acompanhar o álbum Sambazz, tinha como objetivo principal explicar ao seu público o
todos os passos de uma criação musical, desde sua composição, sua produção e
lançamento... Mostrando que o produtor ainda é um artista... E explica que quando
está produzindo, acaba se colocando no lugar de produtor, que é diferente da
posição do artista produzido, já que o produtor as vezes precisa ter uma visão
um pouco mais ampla do projeto todo já que ele é como um diretor
cinematográfico na música, já que é o responsável por orientar o artista,
autorizar arranjos, todas as partes necessárias para uma boa conclusão do
trabalho.
Sobre as
pessoas que ainda o conhecem apenas por “Jairzinho do Balão Mágico”, Jair conta
não ficar chateado com tais pessoas, mas mostra insatisfação pela forma que a
arte musical chega até estas pessoas, que orientadas pelos grandes veículos de
comunicações e adaptadas a conhecerem apenas o que a mídia mostra, acabam não
conhecendo não só o seu trabalho, mas também o trabalho de muitos outros
artistas de ótima qualidade não divulgados pela mídia, que entende que devido a
isto é comum as pessoas lembrarem da época em que estava constantemente na mídia
apresentando o “Balão mágico “ . E complementa que não tem nenhuma pretensão
que todos conheçam seu trabalho... Mas admite que as pessoas poderiam buscar
mais independência mediante a TV, que está carente de programas musicais, e pesquisar
mais outros meios de comunicação: Como a internet, que possui acesso mais
democrático a várias tendências da música brasileira.
A pauta da
entrevista segue então para o lado compositor do artista, Jair diz sentir
orgulho do alcance que seu trabalho tem na vida das pessoas, porém não consegue
ter uma exata compreensão da real inserção de
sua poesia em seus fãs e seu papel de compositor, já que sua obra já esteve
presente, tanto compositor quanto como produtor, em vozes como: Ed Motta, Ney Matogrosso, Tom Zé, MPB-4, Jair Rodrigues,
Vicente Barreto, Luciana Mello, Wilson Simoninha, Pedro Mariano, Patrícia
Coelho, Vanessa Jackson, Sônia Rosa, Uri Caine, entre outros:
“ Isto é a parte mais legal de ser compositor, de
você mexer com arte, porque não é só o compositor que tem este poder...Muitas
vezes nem é só o artista...Muitas pessoas que se envolvem que possam mudar a
vida de outra pessoa como artistas, pensadores, religiosos, professores,
políticos... Acho que até muitos trabalhadores que nem se dão conta de o quanto
podem mudar a vida de muita gente... Acho que todas estas pessoas quando se dão
conta disto acabam descobrindo uma sensação muito especial, e desde que eu
comecei a compor... Eu comecei a compor muito cedo... Com 13 anos de
idade...Mas só comecei a ter minhas músicas gravadas mesmo a partir dos 21 ou
22 anos de vida...E eu comecei a perceber assim que as vezes músicas que eu
faço, muitas vezes sem a menor intenção de mudar a vida de ninguém,
simplesmente usando meu coração, minha alma, pra fazer uma canção... E de
repente esta canção chega no ouvido de alguém de uma forma que mude a vida de
uma pessoa...Mude a forma dela pensar, a forma dela agir... Ou que traga um
sentimento pra ela que seja determinante na vida dela... Eu comecei a perceber
que este é um poder muito grande e ao mesmo tempo uma responsabilidade também,
porque você começa a entender que profissões que mexem com o público, e pessoas
que tem este poder de se comunicar com este público tem que tomar cuidado
porque não é somente o que você pensa... E o que você pensa e o que você comunica
através do seu pensamento, ao mesmo tempo que é muito legal, é também de até
certo ponto assustador, porque você fica com esta impressão de que você tem que
ter muito cuidado com aquilo que você pensa, com aquilo que você fala...Com aquilo
que você transmite ao público porque você pode agir de uma maneira ou de outra
em relação a aquilo que ela ouve ... Isto não é só com o artista , e com várias
pessoas, mas com a gente acaba sendo potencializado, porque através de uma
canção você pode levar uma pessoa a vários sentimentos.... Pra mim é incrível,
é mágico saber, por isto que eu me emociono muito com relatos de outras pessoas
que vem falar de minhas canções porque geralmente são histórias determinantes
na vida destas pessoas... Quando eu faço uma música, claro que eu tenho a
consciência de que esta canção pode emocionar, pode levar pessoas à lagrimas ou
aos risos, mas não consegue ter a noção exata do quanto vai mudar a vida da
pessoa, pessoas comentando que iniciaram um relacionamento por causa de minha
música minha, ou até que terminaram ou através de uma decisão muito acertada após
ouvir uma música minha... Então fico até emocionado com este tipo de relato...
Que as vezes a gente vê que o mundo é realmente complicado e vão perdendo
esperanças... Até eu como pessoa perco as esperanças também as vezes em algum
tipo de situação... E as vezes uma canção pode mudar esta atitude... Então eu
fico sempre muito feliz quando consigo ver que uma canção minha acabou mudando
a vida de alguém... “
Ainda consciente
da admiração que sabe que recebe de muitos fãs, Jair teve que encerrar a
entrevista com sua mensagem para os fãs:
“A mensagem
que passo é de agradecimento... Porque eu acho que um compositor não existe sem
um ouvido...Sem seu público... E eu acho que eu só continuo com a vontade de
compor estas canções por causa destes ouvidos... Por causa das pessoas que
ouvem, das pessoas que se emocionam... É isto que me alimenta para continuar
escrevendo minhas canções... Então só tenho a agradecer, a dizer que por estas
pessoas, e por conta de outras que ainda não tiveram a chance de conhecer meu
trabalho que eu faço... Ou não saber que sou eu quem faço... É por conta destas
pessoas que continuo fazendo... É isto que alimenta um compositor, alimenta
minha alma... Se eu conseguir continuar compondo coisas que possam emocionar as
pessoas, e que possam fazê-las refletir... Pra mim já tá ai a recompensa... Pra
o sentimento é muito mais que criar uma música para vender... Não tenho esta
pretensão, pra mim o sentimento é muito mais artesanal... A minha recompensa
como compositor é justamente saber que você chorou ouvindo alguma música minha...
Pra mim o sentimento é muito mais genuíno...”
Saiba mais sobre Jair Oliveira.
Parabéns Reca, e obrigado Jair, continue enchendo nossos ouvidos e corações de emoção com suas canções. Bjos
ResponderExcluirTemos de beber todos os sons! Aproveitá-los na sua imensidão!
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